Os cinco círculos do amor - Segundo círculo do amor: Infância e puberdade.
"O segundo círculo do amor é a infância. Tudo que os pais me deram, os cuidados que tiveram por mim, dia e noite, perguntando-se: “De que a criança está precisando?”, tudo isso eu recebo deles com amor. Pois é incrível quanto de bom os pais dão a seus filhos. Os pais sabem o que isso lhes custou e o que significa para eles. Eu reconheço isso. Tudo o que aconteceu em minha infância eu aceito agora - inclusive que meus pais não tenham visto alguma coisa, que tenham cometido erros ou que algo de insano tenha acontecido.
Tudo isso faz parte. Na medida em que me defronto com esse monte de desafios e também com o sofrimento, a dor e a necessidade de me afirmar, na medida em que aceito e assumo isso, eu cresço. A criança procura evitar, às vezes, tomar e agradecer, tornando-se ela própria uma doadora. Porém, muitas vezes, ela dá algo errado ou dá em excesso: por exemplo, quando pretende assumir por seus pais algo que não lhe compete como criança. A criança tem, às vezes, dificuldade em receber, porque o que vem dos pais é tão grande que a criança não pode retribuir na mesma medida.
Então ela prefere tomar menos, para que não tenha de retribuir tanto. De onde o senhor tirou esse conhecimento? Observei isso em centenas de constelações, em muitas variações. Os filhos não podem suportar o desnível que sentem em relação aos seus pais, principalmente quando não sabem que a verdadeira compensação do que receberam dos pais consiste em transmitir isso a outros - especialmente, mais tarde, aos próprios filhos.
A sensação de não poderem retribuir é um dos motivos que impelem os filhos a deixar a casa de seus pais. Muitas vezes, os adolescentes recorrem a recriminações para adquirirem o direito de separar-se dos pais. Esse é um recurso barato para escapar da necessidade de retribuir. Contudo, ele ajuda os filhos a se separarem dos pais.
Porém, quando os filhos percebem que é possível compensar, transmitindo a outros o que receberam e que é imperiosa a necessidade de compensar dessa maneira, eles conseguem separar-se dos pais sem necessidade de críticas. Aprendem como lidar com o que receberam e aprendem o que podem fazer com isso. A vantagem dessa atitude é que não precisam negar nada do que receberam dos pais. Podem tomar tudo, porque sabem que o repassarão. Dessa perspectiva eu ainda não tinha encarado a puberdade. At fica imediatamente claro que as críticas e acusações fazem parte do “jogo de compensação” da consciência. Mas a puberdade também é um processo hormonal.
O senhor disse que esse recurso é “barato”. O que quer dizer com isso? A senhora encara o processo da puberdade a partir de nossa cultura, onde é usual que as crianças comecem a criticar seus pais. Existem culturas onde isso absolutamente não ocorre, onde a separação não é comprada com recriminações. Essa é uma atitude diferente.
A outra é “barata” no sentido de que, se eu tomo pouco, também preciso dar pouco. Tomando pouco, fazendo recriminações, rejeitando o amor dos pais, viabilizo a separação, mas ela acontece de uma forma que empobrece a todos. É tomando que cresço como filho. De um lado, isso é esclarecedor. Mas, de outro lado, parece envolver uma exortação moral: “Adolescentes, sejam bem comportados, não critiquem os seus pais. ”
E quando o senhor fala em “barato”, isso também soa com uma depreciação, pois existem razões que impedem os adolescentes de conseguir isso. Tome a palavra “barato” em seu sentido literal: algo que custa pouco. É pouco o que é tomado e é pouco o que fica disponível mais tarde. Quando eu tomo muito, isso me custa muito, porque não posso conservá-lo. Então, também sinto a necessidade de passar adiante, e isso é “caro”, porque custa mais.
Aí também existe mais. No filho que se recusa a tomar, pouca coisa existe, mas a senhora tem o direito de sentir-se incomodada com o “barato”. Sinto isso de uma forma um pouco mais complexa. Não é uma tarefa dos pais evitar que as crianças se esquivem dessa maneira “barata”? Observei em mim mesma que o natural mutismo dos filhos adolescentes não me preocupa muito. As mães se perguntam, muitas vezes: “O que aconteceu com o meu menininho carinhoso ou a minha menininha carinhosa? Eles receberam algo e agora, de repente, partem vazios. ’’
Aí os pais assumem uma atitude adolescente, fechando a cara para os filhos que não cuidam mais deles, não os ouvem e têm ideias diferentes sobre a ordem. Em outras palavras, a puberdade dos filhos me confronta com minha “criancice”. Se não me aceitam mais sem reservas, interpreto isso como falta de cuidado por mim. Os filhos nos mostram onde é que ainda não somos adultos.
A crítica dos filhos aos pais põe o dedo justamente nessa ferida, pois as crianças têm o olhar penetrante. Elas se preocupam com o próprio crescimento e, muitas vezes, os pais não têm condições de mostrar-lhes seus limites - assim, no momento em que reagem infantilmente, eles recusam o “dar” que lhes compete como pais.
Meu filho, por exemplo, passa o dia todo sem falar comigo, só Deus sabe por quê. Às vezes, tomo essa atitude como dirigida a mim, sinto-me desconsiderada - portanto, sentimentos infantis. À noite ele chega e pergunta: “Mamãe, você me faz uma massagem nos pés?” Eu poderia - como uma adolescente — pensar: “É justamente o que faltava, que eu o sirva enquanto ele me trata dessa maneira.” Mas, com uma atitude mais madura, penso: “Excelente, assim consigo contato com meu filho. Isso é o que posso dar-lhe agora, e o que ele pode receber. ” Os pais também são levados nas águas da adolescência.
A “puberdade” não acontece numa troca reciproca? Eles se separam, os pais e os filhos. Muitos não sabem que existe uma forma de compensar que atravessa gerações. Quando alguém percebe que não precisa retribuir tanto aos pais, mas pode mais tarde repassar isso a outros, fica aliviado em sua alma. Então os filhos podem dizer aos pais: “Vocês podem me dar, eu tomo tudo”. Somente quando percorri totalmente esse segundo círculo do amor é que estou pronto para uma relação conjugal confiável. Dificuldades e problemas nos relacionamentos ulteriores resultam, em sua maioria, de não terem sido completados os dois primeiros círculos do amor. Então precisamos retomar e resgatar o que faltou." Bert Hellinger
Fiquei com as palavras de Bert e não senti em trazer nada para acrescentar, apenas compartilharei a meditação que ele nos oferece.
MEDITAÇÃO
Fecho os olhos e me recolho. Passo a passo, como se desce os degraus de uma escada, retorno à minha infância. Passo a passo. Talvez eu encontre situações onde sinto uma dor ou fico intranquilo. Espero nesse ponto, até que surja uma imagem do que aconteceu nessa época. Muitos traumas da primeira infância estão associados a situações em que fomos deixados sós ou não conseguimos chegar aonde queríamos ou precisávamos. Agora imagino essa criança, que sou eu mesmo, e olho para minha mãe. Sinto meu amor por ela e o impulso de aproximar-me dela. Olho em seus olhos e lhe digo simplesmente: “Eu lhe peço!”. Algo se movimenta na fantasia interior, tanto na mãe quanto em mim mesmo. Talvez ela dê um passo em minha direção, e eu ouse dar um passo para perto dela. Entro nessa vivência, até que interiormente chego a meu objetivo e relaxo nos braços de minha mãe. Então olho para ela e digo: “Agradeço!”
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Isto e um processo interno, porém não se deve fazer muito de uma só vez. Já na primeira vez algo se solta na alma. No dia seguinte posso repetir o processo. De novo desço as escadas, de volta à infância, e chego talvez a uma situação ainda mais antiga. Experimento, talvez, de novo o movimento em direção à minha mãe. Depois de alguns dias, repito o processo - até que, por assim dizer, esteja totalmente com minha mãe.
Geralmente as pessoas lamentam tudo o que não fizeram e o que não receberam, quando eram crianças. Chegam a ficar amarguradas. Que consequências tem isso?
Tudo aquilo que deploro eu excluo. Tudo aquilo que recrimino eu excluo. Toda pessoa de quem tenho raiva eu excluo. Toda situação em que me sinto culpado eu excluo. Assim vou me tornando cada vez mais pobre. O caminho oposto seria o seguinte: Tudo aquilo que lamento, eu encaro e digo: sim, assim foi, e coloco isso dentro de mim, com todo o desafio que me faz. Eu lhe digo: “Agora vou fazer algo com você.
Vou tomar você como meu amigo ou como minha amiga” - seja o que for. Tudo aquilo que me levou a acusar alguém, eu encaro e digo: “Sim. Olho-me para ver como posso receber de outra forma o que ficou perdido para mim. Vejo que força eu tenho para fazer isso sozinho, sem pedir ajuda a outro. Então tomo essa situação para dentro de mim, e ela se torna uma força. O mesmo vale para culpas pessoais, que são aquilo que mais queremos excluir e rejeitar. Olho para elas e digo: “Sim.” A culpa tem consequências.
Eu as aceito e faço algo com elas. Assim, a culpa se torna uma força, e eu também cresço.
Por outras palavras, o movimento básico é sempre o mesmo: em vez de excluir, incluir.
Justamente, e incluir como uma força. Existe, a respeito disso, uma observação muito curiosa. Quando tomo para mim o que rejeitei, o que me causou dor, fez-me sentir culpado ou injustiçado, seja o que for, nem tudo entra em mim. Algo permanece fora.
Eu digo sim a tudo, mas o que entra em mim é somente a força. O resto fica simplesmente fora, não me infecciona: pelo contrário, desinfeta-me e purifica. A escória permanece fora, a brasa entra no coração.
O que se opõe ao tomar?
Não suportar o que pesa nos pais; querer ajudá-los, intrometendo-me e colocando-me acima deles. Nesse particular, convém fazer o mesmo exercício. Contemplo os meus pais com o peso de seus destinos, seus enredamentos, suas deficiências, seus vícios, suas doenças. Vejo o que tudo isso significa para eles, em termos de força, quando o assumem. Da mesma forma como fiz comigo, tomando algo para mim, eu vejo: “O que aconteceria se meus pais tomassem para si o que lhes pesa?
E o que se passa quando quero fazer isso no lugar deles?” Assim posso imaginar que meus pais dizem sim ao que lhes pesa. Isso pertence a eles, inclusive seus enredamentos, que encaro de uma certa distância, de uma posição inferior - como uma criança. Deixo que meus pais permaneçam completamente como meus pais. Não preciso assumir por eles nada que lhes pertença exclusivamente. Tudo isso permanece fora de mim, porque pode ficar com eles.
O que ocorre com o “filhinho da mamãe” e com a “filhinha do papai”?
Eles se intrometem entre a mãe e o pai. A solução para eles é simples: a filha deve dizer ao pai: “Para isso sou pequena demais” e o filho deve dizer à mãe: “Para isso sou pequeno demais”. Em seguida, devem imaginar que se retiram. Então o pai e a mãe precisam olhar-se diretamente e talvez se encontrem de uma outra maneira, porque ninguém mais se interpõe entre eles. Portanto, este também é um exercício que se pode fazer.
Quem percebe que é uma filhinha do papai, olha para o seu pai e lhe diz, piscando o olho: “Sou apenas a sua filha. Para outro papel, sou pequena demais”. A mesma coisa faz o filhinho da mamãe com sua mãe. Olha para ela e lhe diz: “Sou apenas o seu filho. Para outro papel, sou pequeno demais”. Curiosamente, isso é um alívio para todos, inclusive para os pais.
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